Entrevista com a arquiteta Lilian Machado

Em entrevista para a revista Casa Projeto & Estilo, a arquiteta concede uma entrevista que resume bem o que é o Retrofit e a importância dele hoje. Confira:

Lilian Machado é arquiteta, com graduação e mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como docente em cursos de graduação é pós-graduação nas áreas de Arquitetura e de Design de Interiores. Desde 2015 é docente capacitada para elaboração de itens do BNI, através do, INEP/MEC, Brasil.

Atua nas áreas de arquitetura e design há mais de dez anos, com vivência em pesquisa, desenvolvimento de projetos e gerenciamento de obras. Acumula em seu currículo a participação em mais de duzentas obras de espaços comerciais, corporativos e residenciais. Tem experiência em coordenação de trabalhos multidisciplinares ligados à criatividade, inovação e design.

Retrofit

1 - Qual é a diferença entre o retrofit e a reconstrução?

Se uma reconstrução pretende trazer o objeto, a edificação ou a área de intervenção para a sua condição original, trata-se neste caso de um restauro. No retrofit, a intenção primária não é a de trazer à tona as caracteríscas originais. Nesta abordagem de intervenção pretende-se realizar uma atualização de algo que deixou de se cumprir plena função ou utilidade por motivo, por exemplo, de desatualização de infraestruturas, programa de necessidades/uso ou ainda, por não adequação às novas legislações. Esta abordagem pode ser aplicada em diversas escalas de atuação: do objeto, de um ambiente, de uma edificação ou até na escala urbana.

2 - Quais são os benefícios e por que aderir essa técnica?

Aproveitando-se estruturas pré-existentes, tem-se a possibilidade de transformar algo que não mais era adequado, e o poder de uma transformação pode sempre ultrapassar os limites da área específica de intervenção.

Entendendo que não é necessário começar sempre do zero, como em uma página em branco sem história, trás a possibilidade de construir a nova história amarrada ao capítulo anterior, com memória. Existem ainda benefícios como a da valorização imobiliária, ou ainda os de questões ligadas ao desenvolvimento sustentável, eficiência energética e possibilidade de diminuição de pegada ecológica, que são imensuráveis.

As cidades, que serão cada vez mais palco da vida do homem, envelhecem e neste cenário o retrofit caminha junto na direção da capacidade de resiliência das nossas cidades, para que possam se transformar junto com o homem, abraçando suas novas necessidades e tecnologias.

3 - Como surgiu essa ideia

Na área da arquitetura, o termo passou a ser utilizado originalmente na Europa e nos EUA. Em função de legislações rígidas ligadas ao patrimônio histórico e a diminuição de áreas livres para novas construções nos grandes centros urbanos, profissionais foram obrigados a ter que trabalhar com pré-existências de forma mais intensa.

O termo surgiu na indústria aeronáutica quando se referia a adequação das antigas aeronaves aos novos equipamentos e tecnologias. Sendo o termo ligado a postura de intervenção, o raciocínio e os conceitos podem ser aplicados em diversas escalas da arquitetua, como também em outras áreas de atuação.

4 - Em que tipo de imóvel pode ser aplicado a técnica e qual deve ser o estado do estabelecimento?

Qualquer tipo de imóvel pode passar por processo de retrofit desde que ele esteja desatualizado para o cumprimento de suas funções. E isso pode acontecer em imóveis ligados a usos como comércio, habitação, indústria, serviços ou institucional. A intervenção pode inclusive preparar o imóvel para a mudança de uso.

O imóvel não precisa inclusive estar desocupado. Processos de retrofit podem ocorrer com a edificação em funcionamento, muito comum por exemplo em hospitais ou áreas comerciais que não podem parar.

5 - Como acontece esse processo na obra?

Não somente os profissionais envolvidos nos processos de obra, mas também os nas etapas de projeto, precisam ser bem qualificados. Questões de logística de obra e implantação de canteiro, por exemplo, são estudadas de forma específica e podem fugir da regra de uma construção do zero. Acho importante ressaltar também as questões ligadas ao custo de intervenção. Aproveitar pré-existencias nem sempre é mais barato: tudo dependerá muito das escolhas de projeto, da logística da obra, de questões ocultas que podem surgir durante a intervenção.

6 - Qual é a principal ligação que essa técnica tem com a sustentabilidade?

A ligação do retrofit com a sustentabilidade ocorre em várias esferas. Primeiramente, ao realizar uma atualização em uma edificação, abre-se a oportunidade para inserir tecnologias que aumentem a eficiência energética e de conforto para o usuário neste ambiente. O aproveitamento de pré-existências deve buscar uma diminuição do emprego de novos materiais, diminuição no volume de resíduos e o disparo de toda uma cadeia de impactos que o consumo gera. Em uma escala mais ampla, a capacidade de adaptação de nossas cidades faz parte de diretrizes maiores para a promoção do desenvolvimento sustentável.

7 - O que necessariamente não pode se modificado?

Quando se trabalha com pré-existências em uma edificação, deve-se ter muita atenção com relação a possíveis restrições em função de legislações ligadas ao patrimônio histórico. A atenção com pontos e etapas que necessitem de eventuais demolições também são fatores importantes. Mas é claro que projetos e implantações de obras de retrofit, devem ser assistidos por profissionais capacitados.

Fonte: Revista Casa Projeto & Estilo - www.casaprojetoeestilo.com.br

Arquiteta Lilian Machado

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